Tempo de leitura: 8 minutos
140 visualizações

O RELATIVISMO CONTEMPORÂNEO E O DEUS DAS ESCRITURAS SAGRADAS

ESTAMOS EM UM TEMPO RELATIVISTA, mais conhecido como pós-modernidade.

“O relativismo é a teoria que diz que a base para nossos juízos no conhecimento, na cultura e na ética difere de acordo com as pessoas, acontecimentos ou situações. Dá a entender um estado mental e uma maneira de pensar que repele as reivindicações absolutas”.

Não podemos negar que em vários aspectos da vida, como nas ciências, na cultura e em suas diversidades, na filosofia, na ética, nas relações humanas e até mesmo em muitos aspectos do estudo teológico e da religião o relativismo tem um papel importante, instigando o estudo, o aprofundar e novas descobertas.

Contudo o problema é quando lidamos ou nos colocamos em posições extremas, que nos deslocam de um conceito de valores absolutos, e princípios que deveriam nos ser cardeais, orientadores, para relativismo sem parâmetros, tal como um navio à deriva, sem bússola, sem cartas náuticas e em muitos casos até sem qualquer tipo de propulsor (sem velas, sem remos e sem motor).

Este relativismo da pós-modernidade tem levado muitos a esta condição, de navio à deriva, levando até à dúvida sobre Deus, sobre a Revelação de Deus que é a Bíblia, mesmo em contraposição ao grandioso conjunto de apelos dos diversos faróis que buscam marcar posições.

E na verdade são muitos os marcos importantes que servem para, no mínimo em relação a Deus e às Escrituras, nos firmarmos neste tempo relativista.

Sl 19:1: Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

Os registros bíblicos de natureza profética, tais como o livro de Daniel, escrito 600 anos antes de Cristo, mas que tem seu cumprimento paulatino desde que anunciado, sendo um marco de que há absolutos firmados em um Deus absoluto.

A história de Israel é outro destes marcos. Desde Abraão até nossos dias são uma comprovação da existência e poder de Deus, que rege a história, embora comprovadamente sem o determinismo absoluto que nos exclua a responsabilidade.  

Neste contexto, para os que se firmam na existência de Deus, é importante considerar que

HÁ A ETERNIDADE DE DEUS

No ensino de Wayne Gruden, “Deus não tem princípio nem fim, nem sucessão de momentos no seu próprio ser, e percebe todo o tempo com igual realismo; ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo”.

O tempo não impõe limites a Deus, que é o seu criador.  E vinculada à doutrina da infinitude de Deus está a doutrina da sua imutabilidade, ou seja, o tempo não muda a Deus, que o criou.

Deus jamais aprende novas coisas, nem esquece, não sofrendo assim qualquer mutação em seu conhecimento perfeito. Ele conhece todas as coisas, inclusive as que chamamos de passado, presente ou futuro. E conhece com igual realismo.

Sobre isto o salmista assim se expressa no Sl 90.2 “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”.

Isto implica em que

DEUS É O CRIADOR DO TEMPO PARA AS COISAS CRIADAS

Antes que Deus fizesse o universo, não havia matéria, mas então ele criou todas as coisas.

É célebre a afirmativa de Gn 1.1, de que “No princípio criou Deus os céus e a terra”, repetida em vários outros textos bíblicos. Isto inclui o tempo.

O estudo da física nos diz que a matéria, o tempo e o espaço precisam ocorrer ao mesmo tempo: se não há matéria, não pode haver nem espaço nem tempo.

Portanto, quando Deus começou a criar o universo, o tempo começou, na forma de sucessão de momentos e acontecimentos encadeados.

MAS DEUS ESTÁ NA ETERNIDADE

Antes de haver um universo, e antes de haver o tempo, Deus sempre existiu, sem princípio e sem ser influenciado pelo tempo. O tempo, portanto, não tem existência por si mesmo, mas como o resto da criação, depende do eterno ser divino e do eterno poder divino para continuar existindo.

Para Deus, toda a sua existência é sempre, de algum modo, presente.

Quando instado por Moisés a como se apresentaria ao Faraó, ele ordenou que fosse dito: O EU SOU te enviou. Deus é (Ex 3.14). Ele não foi e nem será. Ele é. Ele sempre é.

Por nossa dificuldade em compreender isto, o mais humano que tal explicação pôde ser dada está nos registros do Salmista que diz: Sl 90.4 “Pois mil anos, aos teus olhos são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite”.

Portanto, de algum modo, que tão somente aceitamos por nossa convicção da imarcescível glória de Deus, sem uma completa compreensão, podemos aceitar que Deus permanece acima do tempo e é capaz de vê-lo todo como presente na sua consciência, mas sem se afetar por seus momentos e suas variações.

Assim devemos compreender que

DEUS ESTÁ FORA DO TEMPO; COM ELE TÃO SOMENTE SE RELACIONANDO

Como Deus criou o tempo e como o tempo continua a depender de Deus; e como Deus não sofre influência do tempo, nem para aprender e nem para mudar, estando na eternidade, ele está fora do tempo.

Com o tempo se relaciona, tanto ao criar, como ao intervir, essencialmente através de um dos componentes da Trindade, que conhecemos como O Filho, Jesus Cristo, que ainda age no tempo através de seu corpo, que é a Igreja. E está sob a orientação de outro dos componentes da Trindade, que é o Espírito Santo. Deus ainda age no tempo atendendo orações; antecipando o conhecimento sobre eventos, através de profecias; edificando vidas; operando a salvação dos que creem e outras muitas atuações.

Mas sua imutabilidade reclama nosso entendimento de que Deus é absoluto. Ele não é pós-moderno. Ele não aceita hoje o que não aceitava antes. Seus conceitos não mudam. De seu ponto de vista a justiça não é algo que possa variar. O que era pecado no passado não é convalidado por decurso de prazo. Continua a ser pecado. Ele não varia para atender a pressupostos subjetivos de ninguém.

Nós, com certeza, somos carentes de melhor compreender seus desígnios. E devemos fazer isto a partir da compreensão de que, mesmo em um contexto relativista, nosso Deus é absoluto, bem como toda a verdade, que só dele emana.

Tiago nos diz que em Deus não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17). Portanto longe do relativismo de nossa cultura contemporânea, Deus é absoluto.

Isto facilita nossa compreensão de Deus como

PRESCIENTE

Como Deus está na eternidade, não sujeito às influências do tempo, mas antes tendo o passado, o presente e o futuro como algo em sua realidade presente, sua presciência passa a ser algo óbvio. Ele enxerga o futuro, por assim dizer, como o presente.

Portanto o Deus da Bíblia não é o deus do teísmo aberto, que aguarda os acontecimentos e se submete ao tempo. Mas ao contrário, por já ter visão completa do todo, que para nós é denominado de passado, presente e futuro, enxergando tudo desde a eternidade, uma dimensão fora do tempo como o percebemos, ele já sabe de absolutamente tudo.

Uma das grandes implicações disto está na validade e atualidade de sua Palavra, transmitida a nós através de escritores inspirados, no que veio a ser conhecido como a Bíblia.

Lá, no momento de inspiração, Deus já sabia que hoje você e eu, muitos séculos após aquele registro, estaríamos nos utilizando e sendo confrontados por aqueles escritos.

A Bíblia não é uma produção do passado, mas uma produção inspirada pelo Deus que é. E que já contemplava nossas necessidades no hoje.

Tão somente precisamos compreender o contexto em que sua mensagem foi aplicada, para trazermos significado a nós, em nosso presente.

Portanto a Bíblia é uma mensagem absoluta para este tempo relativista. Ela continua nos confrontando e nos reclamando decisões pela fé.

Em cada tempo ocorreram as dificuldades que lhe foram peculiares. Sejam as propostas judaizantes, gnósticas, idólatras, humanistas e outras. E hoje enfrentamos o relativismo. Mas ainda assim, neste contexto, somos chamados a crer. A decidir pelo que vamos realmente valorizar, reconhecer credibilidade.

Independente das posições subjetivas, o cristianismo continua sendo absoluto em suas respostas para a humanidade, filtrado sempre pela

PALAVRA DE DEUS, QUE NÃO VOLTA VAZIA E DURA PARA SEMPRE.

Não voltar vazia não significa que todos vão aceitá-la, mas significa dizer que ou ela opera transformação ou ela opera juízo.

Disto o próprio texto inspirado dá notícia, por exemplo em 1 Pedro 1.25.

E quando alguém tem dúvidas disto, aconselhamos uma análise dos fatos registrados e dos fatos profetizados no texto bíblico, incluindo sua histórico de escritores, formação, uniformidade, complementaridade, entre outros.  A conclusão ao fim de uma análise séria é que a Bíblia é de fato sobrenatural. Ela é a Palavra de Deus.

Quando alguém proclama crer em algo, com aquela fé que arroga convicção e certeza, se não está pautada na revelação de Deus, em sua Palavra, não faz qualquer diferença no contexto espiritual, pois Deus não está sujeito aos nossos entendimentos, mesmo que denominados de fé.  

Deve ocorrer exatamente o contrário. Nossa fé deve estar alicerçada sobre o Deus absoluto e sua Palavra, plenamente, completamente, e profundamente compreendida, à luz da interpretação nos dada pelo Espírito Santo, através de sua iluminação e dos instrumentos hermenêuticos que nos permite utilizar.

A verdade não foi terceirizada. Por mais que em nosso tempo haja a proliferação de um sentimento de que cada um tem a sua verdade, a argumentação da fé continua válida, porque o Deus que a produziu continua absoluto. Somos confrontados com a necessidade de crer no Pai e no seu Filho, Cristo. E vejamos que sua posição não é relativa, mas absoluta. Ele declara: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14.6).

Mas em oposição a estes absolutos, temos o relativismo extremado, que questiona a existência de Deus, a veracidade das Escrituras, exaltando a falácia de que cada um tem a sua verdade. São negados quaisquer referenciais seguros, especialmente quando estes referenciais compreendem a fé bíblica.

A substituição chega a impressionar, pois são validados autores e pensadores que privilegiam a dúvida, dando ao processo um ar de intelectualidade. É exatamente o mesmo processo que se encontra em Gênesis 3, portanto inaugurando os registros bíblicos, naquele diálogo entre a serpente e a mulher, quando dúvidas são lançadas sobre as ordens e motivos de Deus. Veja que não é inovador. Talvez tenha apenas tenha se sofisticado.

Neste contexto de oposição temos o próprio testemunho bíblico de que

O MUNDO, QUE JAZ NO MALIGNO (1 Jo 5.19).

Por mundo, nesta afirmativa, temos um sistema que busca contrariar a Deus e a seu projeto para a criação.

É o sistema que privilegia a própria destruição humana. Ao negar Deus como absoluto e verdadeiro, este sistema privilegia um outro absoluto, noticiado todos os dias, e muito próximo a cada um de nós, manifesto através da imoralidade, do despreza aos valores familiares, do uso inadequado de nossas liberdades, que resultam em orgias, drogas, violência, avareza, libertinagens de toda ordem, cobiças desenfreadas, corrupção em todos os níveis, com um exacerbado enriquecimento de poucos e ampliação da miséria de muitos; e pior, ausência de paz, ausência de fé ausência de amor e em muitos casos, ausência até de esperança.

Em tempos de relativismo, característica desta pós-modernidade, Deus continua absoluto, e seus valores são ainda a única referência válida para o homem e a mulher que fazem opção pela fé, como orientada pelas Escrituras.

Vale o jargão: é pegar ou largar. Pois a vida eterna é esta: que conheçam a Deus, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que foi enviado (Jo 17.3)

Em CONCLUSÃO, o que se aplica de tudo isto em relação à igreja e ao ministério Cristão?

Sendo Deus absoluto, não sofrendo a influência do tempo, o que inclui o Filho e o Espirito Santo, também a igreja deve cuidar em não ser influenciada por este modelo relativista.

O pós modernismo é uma importante oportunidade para a evangelização, para o anúncio de um Deus que é porto seguro, e de uma Palavra que emana desta segurança, essencial para os que se encontram tomados de dúvidas e incertezas.

Ao mesmo tempo o ministério cristão deve ensinar a igreja a evitar o espirito da dúvida, buscando que todos conheçam bem a Palavra de Deus.

Em meio à diversidade doutrinária, que em sua maior parte acrescentam ou retiram preceitos bíblicos, é essencial que tenhamos intensidade no estudo da Palavra de Deus. Só sua correta e integral compreensão pode nos salvar de “superstições” cristãs, da manipulação dos falsos mestres e de entendimentos e posicionamentos inadequados frente à vontade revelada de Deus.

É visível neste mundo relativista um desprezo a recomendações bíblicas, tais como a que nos faz o apóstolo João, em Apocalipse 22.18,19, dizendo: “Eu, João, aviso solenemente aos que ouvem as palavras proféticas deste livro: se alguma pessoa acrescentar a elas alguma coisa, Deus acrescentará ao castigo dela as pragas descritas neste livro. E, se alguma pessoa tirar alguma coisa das palavras proféticas deste livro, Deus tirará dela as bênçãos descritas neste livro, isto é, a sua parte da fruta da árvore da vida e também a sua parte da Cidade Santa.”

O Apóstolo Paulo nos dizia em 2Tm 4:3-5: Porquanto, chegará o tempo em que não suportarão o santo ensino; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, reunirão mestres para si mesmos, de acordo com suas próprias vontades. Tais pessoas se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. Tu, no entanto, sê equilibrado em tudo, suporta os sofrimentos, faze a obra de um evangelista e cumpre teu ministério.
Esta inconstância doutrinária já era um comportamento presente nos primeiros séculos, mas agora pode ser dito que este tempo chegou, como característica deste relativismo contemporâneo.

Neste quadro toda a igreja, e em especial o ministério cristão, deve atender à recomendação do apóstolo Paulo quando exorta: “Eu te encorajo solenemente, na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, por ocasião da sua manifestação pessoal e mediante seu Reino: Prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e encoraja com toda paciência e sã doutrina” (2Tm 4:1-2).

Nosso Deus é absoluto e só dele e de sua divina revelação emanam as certezas essenciais à vida cristã e à vida eterna.

Leia mais: https://www.paraservir.net/news/relativismo-etico-e-moral-a-luz-da-biblia/